Por muito tempo, a animação digital foi buscando ficar mais próxima da realidade, através de texturas e movimentação mais fluida. No entanto, recentemente, algumas produções vem brincando com um conceito que mistura a estética do digital com algo mais conceitual e abstrato.Robô Selvagemabraça este estilo para contar uma história sobre descoberta de propósito e como o trabalho de um pode impactar a convivência de muitos.A premissa é muito simples: Um carregamento de robôs sofre um acidente e cai em uma ilha remota, onde apenas uma das máquinas permanece intacta o suficiente para ser ativada. Enquanto busca alguém que lhe dê as primeiras ordens e comandos, ela acaba interagindo com a fauna da ilha e, aos poucos, começa a entender e se adaptar aos perigos e belezas do novo ambiente. O elenco de vozes originais conta comLupita Nyong’o,Mark Hamill,Pedro Pascal,Kit Connor,Ving Rhames,Catherine O’Hara,Bill NighyeStephanie Hsu.Embora a cultura pop tenha enraizado na cabeça de muitas pessoas o conceito de máquinas assassinas que se voltam contra a humanidade e causam destruição, o uso de robôs como metáfora para explorar dilemas humanos é uma prática que vem de longa data – como exemplificado nos contos do autor Isaac Asimov. Em Robô Selvagem, o diretorChris Sandersadapta a série de livros dePeter Brown, onde uma máquina busca seu propósito em um ambiente para o qual não foi preparada, servindo como uma metáfora para nossa própria busca por um caminho. O filme reflete como nossas decisões podem fazer a diferença, tanto na vida de um indivíduo quanto de toda uma comunidade. O filme também trabalha o conceito de maternidade, da dificuldade de deixar voar quem você quer proteger.O plot simples do longa permite uma grande liberdade na construção de seu universo. Toda a história se passa na floresta, explorando o contraste entre o robô e os desafios da natureza, além da organização dos animais com suas próprias regras de convivência. Inclusive, até o fato de os animais ‘falarem’ é explicado (no caso, o robô passa a compreender a comunicação deles após analisar suas linguagens). Além dos conflitos gerados por esse cenário, há a presença da empresa que deseja recuperar seu produto – afinal, é o que o robô representa para eles. O filme conta com cenas de humor, personagens carismáticos e uma animação belíssima, usando a estética que aDreamWorksvem trabalhando em suas obras recentes.Trabalhando com paletas de cores variadas e pinceladas que lembram pinturas em aquarela, esse estilo adotado pela produtora — também visto emGato de Botas 2e semelhante a produções comoHomem-Aranha no Aranhaversoe a nova animação dasTartarugas Ninja– valoriza o lado sentimental do filme, trazendo vida tanto para a natureza quanto para a própria máquina. Uma das grandes vantagens da animação é a capacidade de contar a história utilizando efeitos lúdicos que fogem da realidade, intensificando sentimentos e sensações. Aqui, os animadores fazem isso através de sutilezas que representam emoções, transformando o abstrato em algo concreto e fácil de sentir, sem a necessidade de palavras.Assim como emComo Treinar o Seu Dragão, Chris Sanders e a DreamWorks entregam mais uma vez uma adaptação linda e comovente de uma obra literária. Robô Selvagem é um filme para toda a família, com personagens cativantes e uma história repleta de sentimentos que nos faz refletir sobre conexões e propósitos na vida.
Róger |