Quando os filmes baseados em super-heróis pareciam estar começando a saturar, os estúdios decidiram variar a fórmula, e destas variações foi começar a fazer filmes centrados nos vilões. Venom – A Última Rodada é a terceira parte da franquia mais rentável baseada em um vilão, ainda que sua qualidade seja questionável. Neste filme, temos uma história didática como pano de fundo do bromance entre o protagonista e seu parceiro alienígena.
Após retornar de outra dimensão, o simbionte Venom e seu hospedeiro Eddie Brock (Tom Hardy) se veem caçados por todos devido aos acontecimentos do filme anterior, decidindo assim fugirem para Nova York onde teriam opções para se esconder. No entanto, o plano da fuga se complica quando um poderoso vilão chamado Knull, criador dos simbiontes, envia criaturas à Terra na busca de um objeto que pode libertá-lo de sua prisão – e este objeto está dentro de Brock e Venom. No elenco também estão Juno Temple, Chiwetel Ejiofor, Clark Backo, Stephen Graham, Rhys Ifans, Peggy Lu e Cristo Fernández.
Embora o acordo com a Marvel Studios tenha ajudado a Sony Pictures a reestruturar seus filmes com o Homem-Aranha, a empresa continuou com seu plano de trabalhar em filmes focados nos vilões do cabeça de teia. O primeiro longa com Venom tinha o desafio de criar um filme com um vilão do Homem-Aranha sem a presença do mesmo, optando por transformar o monstro violento e sanguinário em um anti-herói, numa trama recheada de humor pastelão, efeitos confusos e soluções preguiçosas. Mesmo desagradando fãs e crítica, o filme ganhou o povo, garantindo uma expressiva bilheteria e abrindo portas para que outros vilões tentassem a sorte. Infelizmente, a fórmula não se repetiu com Morbius e Madame Teia (e é difícil acreditar que se repetirá com o vindouro Kraven).
A diretora Kelly Marcel colocou a dinâmica entre Eddie e Venom como ponto central do filme, desenvolvendo ao redor deles situações que geram momentos de humor pastelão, comédia física e até mesmo mesmo drama e reflexões sobre os caminhos que acabaram seguindo até ali. No entanto, todos os outros personagens são desinteressantes, meros arquétipos ambulantes cujo destino já é previsível na sua primeira aparição. Um exemplo é a família hippie que dá carona aos protagonistas, cuja única função é mostrar que eles têm coração e que são muito chatos. Vale mencionar que o ator Rhys Ifans, que interpreta o pai da família, já havia aparecido em um filme do universo do Aranha, no caso como Dr. Curt Connor/Lagarto em O Espetacular Homem-Aranha. Por mais que o roteiro tente dar profundidade a esses coadjuvantes, utilizando simbologias e elementos explorados em momentos específicos, tudo acaba sendo vazio. O carisma passou longe, e você não se importa com nenhum deles.
A trama de forma direta, com o vilão se apresentando,deixando claro o que ele quer e como pretende conseguir – aliás, todo o filme é assim, extremamente expositivo. Apesar de todo visual ameaçador e promessa e perigo, o coitado está preso e não faz mais do que enviar minions insetóides incompetentes para a Terra. Aparentemente, o objetivo é construir uma ameaça maior para ser explorada em futuros filmes, mas é broxante criar expectativa para um grande confronto que nunca chega a acontecer. O clímax acontece com um grande combate, onde diversos simbiontes genéricos coloridos enfrentam os tais minions em meio a explosões e correria, tudo isso em uma cena noturna que tenta disfarçar os efeitos confusos. E para piorar, a resolução do embate vem de algo que você já sabe que será utilizado, devido à aleatoriedade e à falta de sutileza com que o elemento é mostrado no filme.
Apesar de todos os deméritos, o filme parece trabalhar dentro das regras que fizeram da franquia um sucesso com o público, então é provável que, mais uma vez, veremos uma bilheteria significativa. Venom – A Última Rodada é cafona e simplório, mas não se leva a sério o suficiente para se importar com isso – assim como, aparentemente, os fãs também não.
Obs.: O filme tem duas cenas pós créditos; a primeira é ruim e a segunda, irrelevante (sério, não fique até o fim dos créditos, estou poupando você de perder tempo).