Adoro como algumas adaptações de Tolkien acham que podem nos enganar. Colocam umas paisagens bonitas, uns elfos sussurrando frases poéticas, um anão gritando qualquer coisa engraçada, e pronto: tá aí o “novo épico” da Terra-Média. Mas sabe o que "A Guerra dos Rohirrim" faz? Algo revolucionário.
Ele não trata o público como idiota.
Como fã de Tolkien e amante de RPG, tenho uma relação íntima com Rohan – o tipo de intimidade que me levou a comprar uma action figure de um cavaleiro rohirrim e a assistir "As Duas Torres" pela enésima vez.
E quando fiquei sabendo que veria "A Guerra dos Rohirrim" um dia antes da estreia na Comic Con Experience 2024, minha empolgação foi grande… e meu ceticismo maior ainda.
Afinal, depois de "Os Anéis de Poder", quem pode me culpar?
Mas, contra todas as probabilidades, o filme não só entrega – ele ensina o que é storytelling.
Uma Terra-Média sem muletas
Sabe o que é pior do que um trope clichê?
Um trope clichê mal usado.
Felizmente, "A Guerra dos Rohirrim" sabe disso e usa esses artifícios com a precisão de um arqueiro élfico: quase imperceptíveis, mas certeiros.
A história se passa 200 anos antes da trilogia original, mas não tenta mastigar referências para o espectador a cada cinco minutos. Até o link final com "O Senhor dos Anéis" é tratado com a sutileza de uma flecha, não com o impacto de um troll desastrado.
E Hera? Ah, Hera.
Lembre-se do que Éowyn inspirava: “Eu não sou uma donzela em perigo.”
Bem, Hera ouviu e decidiu ser a mulher que inspira donzelas a levantarem a espada.
Ela é empática, inteligente e comanda a narrativa de um jeito que faz as tradições de Rohan parecerem algo mais do que discursos sobre honra.
Assim como "Rogue One" mostrou que não precisamos de Jedis para amar Star Wars, "A Guerra dos Rohirrim" prova que não precisamos de anéis mágicos para explorar a Terra-Média.
A trama foca no que realmente importa: personagens fortes, temas poderosos e símbolos que gritam emoção, mesmo sem feitiços.
Por que parar na nostalgia quando você pode dominá-la?
A animação é tão boa que faz você esquecer que está assistindo a um desenho – e, convenhamos, isso não é fácil. Os cenários são tão detalhados que poderiam ser uma continuação do trabalho de Peter Jackson, e a movimentação dos personagens coloca você dentro da ação, em vez de sentado no sofá esperando algo interessante acontecer.
E então, há Howard Shore. Quando sua trilha sonora começa, não é nostalgia.
É possessão.
Você é transportado para Rohan, para o Abismo de Helm, para a Terra-Média que você sonhou revisitar desde que os créditos de "O Retorno do Rei" subiram há 20 anos.
Storytelling: aula grátis para os concorrentes
Se os roteiristas de "Os Anéis de Poder" assistirem a este filme, vão perceber uma coisa: não é tão difícil contar uma história original na Terra-Média. É só usar o que Tolkien deixou como base – temas como amor, destruição, honra e orgulho – e adicionar uma pitada de inteligência. Mas não vamos dar todas as dicas aqui, certo?
Se assistir ao filme antes de todo mundo já não fosse suficiente, ainda recebi um bônus: um material exclusivo de agradecimento do próprio Peter Jackson. Foi como se ele dissesse: “Obrigado por ainda acreditar na Terra-Média – e desculpa pelos filmes do Hobbit.”
Conclusão
"A Guerra dos Rohirrim" não é só um filme. É uma lição de como contar histórias, uma homenagem aos fãs e uma prova de que a Terra-Média ainda tem muito a oferecer para quem sabe como explorá-la.
Se você ama Tolkien, vai lutar, chorar e finalmente se lembrar por que a Terra-Média é mais do que fan service e anões fazendo piadas.